Diego Roncaglio em entrevista a O JOGO

Diego Roncaglio é a última barreira do futsal do Benfica. Numa conversa franca com O JOGO, o guarda-redes assume que é vital para a águia impedir o inédito tetra do rival Sporting. E até acredita que o Benfica poderia ter sido campeão europeu.

Desde que chegou, o Benfica venceu duas Taças da Liga. Sentem a cobrança dos adeptos?

-Claro. Não só pelos adeptos, mas sabemos que temos de vencer tudo o que pudermos. Não só o campeonato. Só foram duas Taças da Liga, feliz ou infelizmente, mas estamos no caminho certo e podemos enriquecer o museu.

Estão mais fortes do que em 2017/18?

-Sim, como grupo. No ano passado, era um plantel recém-montado. Este ano, acabámos por ter dois grandes reforços, mas já estamos mais rodados. Precisávamos do Fits e do Tolrà para duas posições muito específicas [pivô e fixo].

Desta vez o Benfica terminou em primeiro a fase regular. O fator casa num hipotético quinto jogo pode decidir?

-Influencia muito, ainda que no ano passado pudéssemos ter resolvido em casa [quarto jogo da final].

O Sporting pode chegar ao tetra. Nunca aconteceu em Portugal.

-A pressão existe sempre. Não sabia que isso era inédito em Portugal, mas o que o Sporting ganha não é problema nosso. Mas não tenham dúvidas de que o Benfica vai dar ainda mais neste ano. No ano passado, fizemos cinco bons jogos. Os dois últimos foram decididos nos penáltis. Não temos medo dos penáltis sequer e acreditamos que desta vez cai para nós.

Roncaglio é um guardião goleador. Leva sete golos na época, tantos quantos Tolrà e Miguel Ângelo. Quer os nove golos que, no Brasil, o fizeram o melhor artilheiro da equipa na liga.

Ganharam em Ponte de Sor ao Elétrico [4-6] e prosseguiram o ritmo na Luz. Querem chegar à final do play-off rapidamente?

-Queremos ganhar todos os jogos e resolver. Não interessa quem nos calha. Queremos "matar" o mais rápido possível.

Assusta poder disputar o título com o campeão europeu?

-Para nós, é o mesmo Sporting de sempre. Basta ver o equilíbrio que existe entre Benfica e Sporting. Não muda nada, vamos fazer o mesmo: correremos atrás do troféu. Se pensarmos, até dá maior mérito ao Benfica ser campeão batendo o vencedor da Champions.

Empataram 1-1 no João Rocha na ronda de elite e acabaram afastados pela diferença de golos da final-four europeia. Sentem que poderiam ser campeões europeus?

-No balneário, partilhamos a ideia de que podíamos ter vencido a Champions. O único golo que sofremos do Sporting foi num livre de dez metros. Defendemos muito bem e o Guitta estava inspirado. Salvou o Sporting. Aí e na competição...

Pelo Benfica, conquistou duas Taças da Liga. No Brasil, venceu uma Supertaça, duas Libertadores e dois campeonatos. Esteve três anos no Kairat, mas não chegou à desejada UEFA Futsal Cup.

Sonha chegar a uma final europeia?

-Não só chegar, mas ganhar. O Benfica tem todas as condições. Vencemos o Inter Movistar na pré-época e disputámos sempre os jogos com o Sporting. Gostaria de o conseguir, se possível aqui, onde estou feliz com a minha família.

"Insultei-me logo depois de ver o cartão vermelho"

Roncaglio foi expulso diante do Braga na meia-final do play-off e acabou por perder três dos embates da final com o Sporting. Revela-nos como se sentiu depois de ter cometido a agressão. "Nem posso dizer as palavras que usei... Insultei-me depois de ver aquele cartão vermelho. Cresci, estou mais maduro", afirma, lamentando que possa ser incompreendido: "Fiquei muito abalado, desiludido, sem poder fazer nada. Foi o pior momento da minha carreira." Odeio perder, mas acho que as pessoas olham para mim como um jogador agressivo. É uma impressão errada."

"Chamam-me 'fominha', mas o 5x4 é uma arma"

Roncaglio é guarda-redes, mas é por ele que começa o ataque encarnado, tanto em superioridade numérica como na saída de bola. O brasileiro gosta e vê nisso uma arma para o título.

Leva sete golos na época. Tantos quanto o Miguel Ângelo ou o Marc Tolrà...

-Não sabia da contagem, mas vou gozar com eles [risos]. É sempre um objetivo da época. Até fiz uma aposta com o jogador Afonso Jesus em como fazia nove na temporada. Queria marcar em todas as provas, mas falhei na Champions.

Sempre foi assim?

-Sim, até digo que devia ter sido atacante e não guarda-redes. Estava no Blumenau, em Santa Catarina, e fui o melhor marcador da equipa na liga, com nove golos. Jogávamos muito com o guarda-redes avançado, tal como agora no Benfica. A ganhar ou a perder, usávamos essa estratégia.

O 5x4 e muitas vezes a saída de bola consigo na ala fez a equipa evoluir?

-O nosso 5x4 é muito forte. Não interessa o momento do jogo. Fica difícil para quem defende, ainda para mais quando me destaco no passe e na finalização. Têm de me bloquear nos dois modos. Está a dar certo, não só pelos meus golos, mas pelas oportunidades que criamos.

Quando recebeu o convite da Luz sorriu de pronto e aconselhou-se com o vizinho de Santa Catarina e ex-colega no Kairat, Leo, hoje fixo do Sporting

É o segredo para o título?

-Não digo que seja segredo, mas é uma arma forte. Temos jogadores... [respira fundo], que podem decidir em qualquer campeonato do mundo. Não só o português.

Sente-se confortável ao receber a bola na ala?

-Tenho mais espaço na quadra e muita confiança no que faço e no que nos ensinam. Além disso, sei que tenho maior impacto no jogo porque posso carregar pelo meio ou descobrir um passe na ala. Tenho mais opções.

Em Portugal, um jogador egoísta é chamado de "fuço". Já o chamaram assim?

-No Brasil é "fominha". Às vezes, sim. O Robinho pede o passe antes de eu rematar. O guarda-redes sofre sempre. É normal. São 15 atletas de campo contra dois guarda-redes [risos].

Roncaglio tem contrato até 2020 e está feliz: "Aprendi as manias da liga e adoro o país. Há segurança. Portugal é o Brasil, só que é de Primeiro Mundo"

O que escolhia: o golo que dá o campeonato ou defesa impossível a cinco segundos do fim?

-A defesa. O golo é maravilhoso, mas salvar a equipa nos últimos segundos é indescritível [olha para o céu].

E já lhe descobriram o ponto fraco?

-Se o fizeram, não me contaram. Ninguém é perfeito, mas considero-me completo.