Sérgio Carvalho deixa Boavista



O treinador Sérgio Carvalho está de saída do Boavista. O treinador concedeu à página do clube uma entrevista onde foca algumas situações vividas no clube.

Em comunicado o clube refere que:

"O Departamento de futsal vem por este meio informar que o seu treinador Sérgio Carvalho não irá manter as suas funções no Boavista FC.

O treinador de 42 anos, que aceitou há dois anos o difícil desafio de recuperar o futsal e a modalidade no clube, no momento mais triste e penoso da sua história (após a descida aos distritais da Associação de Futebol do Porto), deixa o cargo por motivos pessoais e profissionais que se tornaram incompatíveis com a normal actividade do nosso treinador, tendo manifestado porém, a sua vontade de continuar a colaborar com a modalidade.

Em duas épocas - Sérgio Carvalho - conduziu o clube ao título de campeão da Divisão de Élite da AF Porto garantindo a subida aos Nacionais a cinco jornadas do fim da competição e, na presente temporada, apurou a equipa para a fase final de acesso à primeira divisão nacional vencendo a Série “C” de forma surpreendente e superando desta forma os objectivos propostos, que consistiam em manter o clube na segunda divisão, por forma a criar condições estruturais que permitissem posteriormente colocar o clube na Liga Sport Zone.

Agradecemos todo o empenho e disponibilidade demonstrada no momento mais duro do Futsal do Boavista (o que demonstra bem o seu amor pelo clube e que torna muito nobre o enorme esforço que sabemos ter empregue para dois anos de excelentes resultados) e desejamos a Sérgio Carvalho todo o sucesso pessoal e profissional."


Entrevista:

P - Que balanço faz destas duas épocas no comando técnico do Boavista ?
R - Foram duas épocas de sucesso, de vitórias ( muitas delas fora de quadra), de crescimento e de muitos momentos de árduo trabalho compensado com resultados de excepção que tiveram tanto de gratificantes como de exigentes e muito desgastantes. Talvez pela forma como encaro todos os desafios da minha vida , com muita seriedade e empenho, isso me tenha trazido um desgaste tremendo mas que me deixam memórias que nunca hei-de esquecer. Do Distrital que vencemos a cinco jornandas do fim e que recolocou o Boavista nos Nacionais, à luta pela subida à primeira divisão em menos de duas épocas, creio que é assinalável mesmo sem os meios, o orçamento e as condições dos grandes candidatos.

Portanto, o balanço só pode ser positivo e só tenho pena de não poder continuar a trabalhar neste projecto a este ritmo de crescimento para chegar com naturalidade à Liga Sport Zone, objectivo que acho fazível desde que devidamente estruturado.

Alíás, este ano, ao contrário da ambição – que compreendo – de muitos adeptos, e da nossa própria vontade em fazer a cada jogo mais e melhor, o objectivo REAL era manter nesta divisão para criar condições sólidas e mais consistentes para de seguida atacar verdadeiramente a subida e não como mera consequência de um campeonato muito acima das expectativas, que foi exactamente aquilo que fizemos.

P - Quais as diferenças encontradas entre a Divisão de Elite da AFP e o Campeonato Nacvional da 2ª Divisão?
R - Tenho de dividir a minha resposta em três partes, pois apesar de serem evidentes as grandes diferenças que encontramos, não deixamos de verificar algumas situações que me desagradaram . Defrontamos uma ou outra equipas que na minha modesta opinião não têm lugar nesta divisão. Na Divisão de Elite da AF Porto existem alguns – poucos - clubes com equipas mais competentes. Depois existem aqueles que acharam que o orçamento e o nome ou estatuto seriam suficientes. Sempre foi do meu entendimento que a isso têm de se juntar competências ! E por isso vi falharem redondamente projectos com grandes ambições que ainda se acharam no direito de “menorizar” alguma da sua “inesperada” concorrência.

Mas por outro lado, convivemos com adversários com projectos, plantéis, treinadores e estrutras muito competentes e que merecem destaque. Na série que vencemos - “C”, foi um prazer jogar contra diversas equipas e privar com gente de grande qualidade e com excelentes projectos e grupos de trabalho, que tenho a certeza que continuarão a fazer coisas muito interessantes na modalidade. Não quero particularizar por razões óbvias, mas há gente jovem no futsal com um talento e um potencial imenso que poderiam, inclusive ter ido mais além esta época e depois existem figuras incontornáveis da modalidade que são autênticos “professores” que muito admiro e que mesmo não conseguindo o apuramento para a fase final foram fantásticos adversários que nos obrigaram a trabalhar muito , a sermos mais competentes e nos ajudaram a crescer e quem sabe a fazer o campeonato que fizemos. Assim como na fase final, seríamos teoricamente e para a quase totalidade das equipas o parente “pobre”, mas acabamos no terceiro lugar surpreendendo toda a gente. Também aí , admito, treinadores, plantéis e clubes com muita qualidade e condições de toda a ordem ( muito acima das nossas ) com quem seguramente aprendemos muito também.

P - Depois de dois anos de grande sucesso, o que motiva esta inesperada saída do cargo de treinador ?
R - Foram dois anos muitíssimo desgastantes. Recordo que fui convidado no pior ano de sempre do Futsal do Boavista. Ainda assim aceitei . E aceitei por isso mesmo. Ser treinador no distrital – com o devido respeito por todos os treinadores e equipas – não estava nos meus planos, assim como não estava regressar ao futsal. Tinha acabado um ciclo, que gostaria de ter fechado de outra forma no futebol de formação, e precisava de me focar noutras questões quotidianas da minha vida profissional. Mas infelizmente assisti à queda do futsal do meu Boavista nos distritais. Não podia dizer que não. Senti uma mágoa imensa e é nesses momentos que os verdadeiros Boavisteiros têm de lá estar. Porque o clube é nosso. Dado o meu passado na formação, onde ajudei como seccionista, e mais tarde, como treinador, a formar vários atletas de referência na actualidade, e onde fui muito feliz ao conquistar vários titulos. Como sempre nestas ocasiões ninguém gosta de dar a cara , de se oferecer para treinar ou de se aproximar de um grande clube. Olhamos à volta e vemos os de sempre para ajudar. Os Boavisteiros ou os que gostam muito do clube, com competências para tal – acorrer para ajudar a recuperar, a reerguer muitas vezes sem nada. Foi aí que decidi aceitar o convite do Sr. Antonio Morais e do Dr Bruno Sousa, aos quais estou grato por se terem lembrado de mim, do meu trabalho e me deram a honra de treinar o meu clube na categoria sénior.

Porém nem sempre a vida permite a quem não é profissional de um qualquer desporto, a possibilidade de permanecer nos projectos que desenvolve. A minha saída tem apenas a haver com uma incompatibilidade pessoal e profissional gerada há já algum tempo que em consciência não me permitem treinar no próximo ano, assim como já foi demasiadamente exigente esta época. Estaria agarrado a um lugar por vaidade sabendo que não poderia dar o melhor de mim. Como não sou vaidoso e só quero o melhor para o Boavista , com muita pena e mágoa minha tenho de interromper este meu trajecto enquanto treinador. Queria muito levar este ciclo um pouco mais além mas por agora não é de todo possível.

P - Coloca a hipótese de um regresso ?
R - Neste momento ficarei apenas a colaborar no que for eventualmante necessário. Não sabemos o dia de amanhã nem muito menos o que pode acontecer. Porém, atendendo a esta minha decisão , não coloco qualquer cenário para não ser elemento condicionador seja do que for. Quero que o Futsal do Boavista continue a crescer – o mais dificil está feito, ou seja a recuperação da modalidade, o seu reconhecimento e a sua dignidade com base numa equipa ambiciosa e vencedora. O meu desejo é portanto que o próximo treinador seja feliz e consiga desenvolver um trabalho se possivel melhor que o meu, porque o sucesso do Boavista está acima de qualquer ego ou personalidade.

Aproveito esta oportunidade que me concedem para agradecer do fundo do coração aos meus atletas – todos eles ( são os meus campeões e desejo-lhes toda a sorte do mundo no desporto e na vida ).Ninguém é perfeito mas acho que fizemos um excelente trabalho em conjunto e guardo gratas memórias de treinos, jogos e momentos únicos do grupo que ficam no nosso imaginário. Foram duas grandes épocas de dois incriveis grupos de trabalho que “encarnaram” o ADN do Boavista .

Aos meus adjuntos ( Nuno Andrade, João Marques, Augusto Correia, “Alex” Peixoto) o reconhecimento pelas capacidades técnicas, humanas e organizacionais que foram decisivas em muitos e muitos momentos, além da estrutura mental que tiveram para me “aturar” e ao meu diretor desportivo que foi sensivel ao meu apelo e também não virou a cara à luta no momento mais critico ( Filipe “Buffon” ) . Todos foram decisivos. Quanto aos diretores uma palavra de apreço pelo seu trabalho - muito especialmente ao Sr José Batista e Diogo Batista – bem como ao Sr Flórido Melo, Orlando Teixeira e ao Eduardo Vasconcelos. Ao meu “velhinho Ministro”(Sr. Carlos Alberto) - massagista, uma figura do futsal que muito estimo e claro uma nota para duas pessoas. O Sr. António Morais , diretor de um departamento que se vai mantendo vivo e activo muito em função do seu trabalho e das suas escolhas e o Presidente Adjunto – Eng. António Marques – incansável no apoio às modalidades do clube.

Lanço um apelo a toda a modalidade. Ajudem quem possa vir a ser o novo treinador sénior e continuem a desenvolver o vosso trabalho na formação que muito prazer também me deu ver crescer.

Até sempre !

#carregaboavista 


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