Bernardo Paçó - Guarda-redes herói na Supertaça com o Benfica em entrevista ao Jornal Record

RECORD - A Supertaça ainda está fresquinha, como foi conquistar mais um troféu?

BERNARDO PAÇÓ - Foi incrível. Era uma taça muito importante para ganhar porque era a primeira competição oficial. É sempre bom começar a ganhar e voltar a sentir estas sensações de vitória e de motivação de conquistar mais um troféu. Já não ganhávamos há algum tempo porque fomos de férias, mas tem sido bom estarmos sempre a ganhar. Começar a época assim é muito bom, dá-nos motivação para o resto do campeonato e para a Champions que aí vem.

R - Teve um sentimento especial por ter vestido a capa de herói nos penáltis?

BP - De facto, esta teve muito mais importância do que as outras, porque tive um papel importante neste jogo porque foi eu que decidi nos penáltis. Foi um sentimento de orgulho quando acabou o jogo. Caiu-me mais a ficha no dia a seguir, quando estava mais frio e pensei: "Tive uma importância muito grande na supertaça e que seja a primeira de muitas."

R - Foi muito estudo ou intuição?

BP - O primeiro parece que não toco, mais ainda toco e adivinho o lado. O Rocha já jogou comigo, convivi com ele algum tempo e treinávamos, muitas vezes até na brincadeira, os penáltis. Sabia e tinha a certeza que ele ia mandar para aquele lado, por isso já sabia que ia defender o penálti do Rocha. Os outros dois foi das análises que temos feito e da maneira como meteram o pé na bola. Espero sempre algum tempo e nunca saio antes para eles não decidirem. Meto a pressão no lado deles ao tentar aguentar ao máximo antes de sair.

R - Apesar dos inúmeros troféus que têm conquistado nos últimos anos, a forma como festejam parece que é o primeiro. Esta equipa não se cansa de ganhar?

BP - Não cansa. Já referi isto muitas vezes: nós queremos ser sempre os melhores e para sermos os melhores temos de estar sempre a ganhar e essa é a nossa motivação.

R - Há 11 anos no Sporting, acredito que o Nuno Dias seja quase como um pai. Como é conviver com ele diariamente e como é que ele vos motiva depois de todos estes anos e estas conquistas?

BP - O Nuno tenta motivar-nos dizendo que se queremos ser os melhores, temos de ganhar. Ele diz muitas vezes que ganhar é fixe e nós brincamos muitas vezes com ele sobre isso. Mas a verdade é que ganhar é fixe e a cara de quem ganha, nunca é a cara de quem perde. É doloroso perder. Por tanto tempo de trabalho, porque é esta a nossa profissão e queremos fazer o melhor e não conseguir ganhar é muito triste. Estamos no Sporting, queremos ser os melhores, temos de ganhar. O Nuno está sempre a avisar para não relaxarmos.

R - Após a Supertaça, estiveram numa brincadeira com o Nuno Dias no Instagram. Esse momento define a vossa relação?

BP - A forma como ele nos responde é a forma como ele nos trata. Ao meu irmão é trambolho, a mim é taralhouco. Ele é muito descontraído nisso e brinca muito connosco. Acho que é bom para relaxar um bocadinho. Essa ligação entre treinador e jogador é necessária.

R - Joga na mesma equipa que o seu irmão, o que não é muito comum nos desportos profissionais. Como é a vossa relação no Sporting?

BP - A nossa relação aqui é como em todo o lado. Muita união, sempre a tentar ajudar-nos um ao outro. Criticamo-nos muito e às vezes até nos chateamos, mas sabemos que podemos sempre contar com essa pessoa para nos dar a sua verdadeira opinião. Sabemos que nunca nos vai mentir ou dizer algo só para nos sentirmos bem. É uma opinião muito honesta dele e tem sido uma ajuda imensa para chegar aqui.

R - São muito críticos um do outro?

BP - Sim, mesmo nos treinos é sempre a mandar ‘bocas’ um para o outro. Faz parte. Temos uma relação muito chegada e é normal. Agora somos um bocadinho mais controlados, mas na formação quase que lutámos por um lance ou outro porque ficámos na mesma equipa, o que por vezes nem podia acontecer se não dava asneira.

R - O Sokolov chegou ao clube neste verão, já consegue dialogar com ele ou ainda têm de recorrer ao tradutor?

BP - Agora já dá para falar mais um bocadinho. Ele agora já entende mais ou menos o que queremos dizer e já nos habituámos a falar em inglês. Até já sei algumas palavras em russo. Já não precisamos do tradutor.

R - Os adeptos ainda conhecem pouco do Sokolov, como é que é a personalidade dele e o que pode acrescentar ao Sporting?

BP - Pode acrescentar muito. Tem muita qualidade, pode jogar em muitas posições e tem aquilo que o Sporting precisa: uma raça muito grande, nunca desiste de um lance e toda a gente pode contar com ele para tudo. Fora do campo, é um bocadinho tímido, mas já se tem soltado mais e já entra nas brincadeiras.

R - Desde o Ricardinho, mais nenhum português foi eleito o melhor jogador do mundo. O Pany esteve perto, mas não conseguiu. Acredita que alguém vai voltar a tocar no topo do mundo como o Ricardinho o fez?

BP - Acredito porque há muitos jogadores jovens com qualidade. Neste momento há muitos jogadores com a possibilidade de o ser e acredito que, nem que seja para o ano ou daqui a dois anos, possa haver outro português a ser o melhor do mundo.

R - Conhece bem o Zicky, o que ele tem de especial?

BP - É um rapaz muito humilde e sabe que tem características que ninguém tem. Toda a gente sabe que ele é bom pivot, que ataca muito bem, mas para mim a principal diferença é a forma como se dá ao jogo defensivamente. Não desiste de uma bola e corre sempre atrás.

RECORD - Aos 22 anos, já conquistou tudo. Quais são os objetivos que tem delineados a curto prazo?

BERNARDO PAÇÓ - A curto prazo será obviamente fazer uma grande época aqui no Sporting, mas também ser chamado à Seleção A. Acho que é importante. A Seleção é o sonho de qualquer jogador. Estou muito focado naquilo que posso fazer no clube e na minha evolução.

R - Muitos dos seus colegas no Sporting, os seus melhores amigos a até o seu irmão, já conquistaram tudo pela Seleção. Isso serve de motivação para si?

BP - Eu falo muito com o Neves, com o meu irmão e com o Zicky, que ganharam agora a finalíssima, que eu quero ganhar o que eles já ganharam. Por isso, vão ter de repetir o que ganharam quando eu lá chegar. Tem de ser!

foto - Bernardo Paçó - Instagram