Futsal em Transformação: Dyego Zuffo Lança Debate sobre Regras, Técnica e o Futuro do Jogo

O futsal, com quase um século de existência e milhões de adeptos espalhados pelos quatro cantos do mundo, vive hoje um momento de reflexão profunda. Nas redes sociais, o jogador Dyego Zuffo levanta questões pertinentes sobre o rumo do jogo, defendendo mudanças que poderiam tornar o futsal mais dinâmico, técnico e envolvente.
Mais do que simples críticas, Dyego apresenta propostas concretas que pretendem recentrar o jogo no talento, na criatividade e na igualdade de condições entre os adversários. Entre elas, destacam-se restrições ao uso do polémico goleiro-linha, limitações à atuação dos guarda-redes e um apelo à valorização da formação técnica nas camadas jovens.
Goleiro-linha: um recurso táctico ou um subterfúgio estratégico?
Dyego questiona a banalização do uso do goleiro-linha, estratégia que, embora legal, tem provocado jogos excessivamente tácticos e de pouca acção real durante largos minutos. Em vez de ser um recurso pontual, passou a ser uma muleta estratégica que adia o risco e comprime o espetáculo nos instantes finais.
A proposta é ousada: permitir o uso do goleiro-linha apenas nos dois minutos finais de jogo. “Cada minuto passaria a ter um peso real. A equipa em desvantagem teria de arriscar, criar soluções e propor jogo desde o início, e não apenas aguardar o momento de colocar um sexto jogador em campo”, argumenta Dyego. A ideia visa premiar a técnica e o colectivo, e não apenas a superioridade numérica artificial.
Guarda-redes mais contidos: o regresso à essência do jogo de linha
Outra proposta passa por limitar a actuação dos guarda-redes. E se estes não pudessem sair da área? E mais: e se só pudessem tocar na bola uma vez por posse?
Tal mudança obrigaria os jogadores de campo a assumirem a condução e a resolução das jogadas, com maior movimentação e criatividade. A ala, tantas vezes negligenciada, voltaria a ser uma zona de construção, com tabelas rápidas, infiltrações e passes em profundidade. O resultado? Um jogo mais aberto, leve e ofensivo — mais próximo da arte do que da engenharia táctica.
Arbitragem e protecção do ataque: um ponto cego?
Dyego também aponta lacunas na actuação arbitral, nomeadamente na protecção aos jogadores ofensivos. Empurrões discretos, contactos no momento do remate e faltas fora do lance são frequentemente ignorados. A comparação com o basquetebol é inevitável: nesse desporto, qualquer toque no momento do arremesso é punido. Por que razão, no futsal — onde a execução técnica com os pés é ainda mais exigente —, não se aplica o mesmo critério?
Uma arbitragem mais rigorosa nesses momentos garantiria a integridade da jogada, protegeria os talentosos e, sobretudo, elevaria o nível do espectáculo.
Formação técnica: o regresso às bases
Num mundo cada vez mais físico, Dyego Zuffo defende um regresso à técnica como eixo estruturante da formação. Não se trata de negligenciar a preparação física ou mental — ambas essenciais — mas de devolver protagonismo ao trabalho técnico de base.
Sugere-se um modelo de formação focado em:
Repetição e domínio técnico dos fundamentos;
Desenvolvimento da táctica individual;
Protecção e condução da bola;
Passes curtos, altos e triangulações;
Utilização competente de ambos os pés.
“O jogador tecnicamente bem formado resolve problemas no jogo sem depender de atalhos tácticos”, defende Dyego.
Mais do que ideias: um convite ao debate
As propostas de Zuffo não pretendem impor verdades absolutas, mas abrir um espaço de discussão honesta e qualificada. O uso do goleiro-linha está nas regras e deve continuar a ser permitido — mas é legítimo questionar se o seu uso irrestrito não está a desvirtuar a essência do jogo.
“A discussão não é apenas sobre estratégia. É sobre o impacto que certas permissividades têm na qualidade do jogo”, afirma Dyego, apelando à FIFA e às federações para que liderem um debate técnico, transparente e inclusivo.
Uma nova era para o futsal?
O futsal sempre foi palco de emoção, improviso e talento puro. Mas como qualquer desporto em evolução, precisa de se reinventar para não perder a alma.
As ideias lançadas por Dyego Zuffo são provocadoras, sim — mas também necessárias. Se queremos um futsal mais belo, justo e técnico, talvez tenha chegado a hora de olhar para o futuro com coragem e escutar os que, como ele, pensam o jogo com paixão e lucidez.
O futsal merece mais. Merece ser arte do primeiro ao último minuto.