Liga Placard: raio-X estatístico revela tendências decisivas na viragem para a 2.ª volta | Rui Filipe Cunha e José Ferreira
A Liga Placard entra, este fim de semana, na 2.ª volta, e os números das primeiras 66 jornadas permitem uma leitura objetiva daquilo que tem sido o comportamento coletivo das equipas. Os dados, trabalhados pelo treinador Rui Filipe Cunha em colaboração com José Ferreira, mostram um campeonato de elevado volume ofensivo, forte intensidade e diferenças marcadas entre equipas altamente eficazes e outras que rematam muito… mas concretizam pouco
409 golos em 66 jogos: uma média de 6,2 por jornada
Até ao momento, foram anotados 409 golos, valor que confirma a tendência de crescimento ofensivo da competição. O corredor central e a zona dos 10 metros finais continuam a ser os espaços dominantes na criação e finalização, mas os números revelam um detalhe curioso:
50 golos construídos a partir do corredor direito
45 golos vindos do corredor esquerdo
Uma diferença curta, mas suficientemente relevante para mostrar o peso crescente das ações individuais e coletivas pelo lado direito das equipas.
Benfica: a máquina de remate
A equipa encarnada lidera claramente em volume ofensivo:
567 remates totais (média de 51,55/jogo) — a maior da Liga
163 remates defendidos pelos adversários — também o valor mais alto
Este dado indica duas leituras possíveis:
Benfica remata muito e remata em zonas pressionadas;
Os guarda-redes adversários têm tido exibições de grande nível contra a equipa da Luz.
Sporting: a equipa mais eficaz e com maior taxa de enquadramento
Se o Benfica lidera no volume, o Sporting domina a qualidade:
69 golos, o melhor ataque
223 remates enquadrados (golos + defesas), média de 20,27/jogo
Os leões apresentam a melhor relação entre criação, definição e eficácia, algo que também se reflete no controlo territorial e na maturidade com posse.
Braga: o caso mais surpreendente
Os bracarenses apresentam uma das estatísticas mais intrigantes do campeonato.
São a segunda equipa que mais remata
Mas apenas 27 golos marcados
181 remates para fora (média de 16,45/jogo) — o valor mais alto
198 remates interceptados, igualmente o número mais elevado da Liga
A leitura é clara: o Braga cria, tenta, insiste… mas define mal. A baixa taxa de conversão tem sido decisiva para a posição atual na tabela.
Quinta dos Lombos e AD Fundão: pontas opostas na criação
Quinta dos Lombos
Equipa com menos remates totais: 324 (média de 29,45)
Confirma um modelo mais reativo e seletivo no disparo
AD Fundão
Pior ataque da Liga: apenas 17 golos
Média inferior a 2 golos/jogo
Problemas evidentes na criação e na definição
Caxinas: dificuldades na baliza adversária
Apenas 105 remates enquadrados
Média de 9,55/jogo, abaixo da fasquia competitiva da Liga
O registo confirma as dificuldades ofensivas já visíveis nos resultados.
Tendências gerais do campeonato
✔ A concretização no corredor central continua a ser determinante
✔ A área dos 10 metros é, de longe, a mais produtiva
✔ O lateral direito tem ligeiro ascendente sobre o esquerdo na origem das jogadas de golo
✔ Equipas com maior controlo emocional e melhor qualidade de definição (Sporting, Benfica) distanciam-se das restantes
✔ Equipas que rematam muito, mas sem critério (Braga), sofrem as consequências na tabela
Conclusão
Os números confirmam um campeonato altamente competitivo, intenso e profundamente táctico. Benfica e Sporting destacam-se em duas dimensões distintas — volume e eficácia — enquanto Braga se apresenta como o maior enigma estatístico da competição. Na viragem para a 2.ª volta, estes indicadores serão fundamentais para ajustar processos, redefinir prioridades e antecipar o que poderá ser uma fase decisiva na luta pelas seis vagas do play-off
Reconhecimento ao trabalho analítico
Este levantamento estatístico, de rara profundidade e rigor, só foi possível graças ao trabalho meticuloso de Rui Filipe Cunha e José Ferreira, dois profissionais que têm elevado a análise de dados no futsal português a um patamar de exigência alinhado com o que se faz nas melhores ligas do mundo. A capacidade de transformar números em leitura tática, de simplificar a complexidade do jogo e de oferecer ferramentas que melhoram processos de treino e tomada de decisão merece destaque absoluto. Num campeonato onde cada detalhe pesa, estudos como este tornam-se verdadeiras bússolas para equipas, treinadores e analistas. O futsal português ganha conhecimento, profundidade e qualidade — e isso deve-se também a quem investe horas, método e paixão para que todos compreendam melhor o jogo.